quinta-feira, 22 de setembro de 2011

Samba do Arnesto

Adoniran era um grande cronista. Muitas músicas, em que as pessoas acham que se trata de um retrato da vida do compositor paulista, é na verdade um história contada por Adoniran. "Malvina", "Trem das Onze" e "Samba do Arnesto" são algumas delas. Esta última é uma das mais curiosas e que até hoje causa muita confusão. Adoniran, que inventava histórias para explicar as suas músicas, já disse de tudo sobre o Arnesto. No programa "MPB Especial" (atual "Ensaio") Adoniran deu a seguinte explicação:

O Arnesto existiu... Mora no Brás. É irmão do Nicola Caporrino. Ernesto Caporrino. Ele convidou a gente pro samba. Eu fui lá, com meus maloqueiros. Com fome... Disse que tinha comida... Não tinha nada, sabe? Cheguei lá... Você quer ver uma coisa? Marcaram meio-dia... Cheguei a uma. Tinha uma panela de arroz só com a casca embaixo. Eu raspei, porque eu cheguei com fome lá, raspei a panela. E o feijão, que não tinha mais nada rapaz, eu raspei o caldeirão de feijão... Porque eu tava com fome. Muita pinga no caminho, muita cana no caminho, ia chegar lá com fome, claro.

Esta história foi a que mais se propagou nas explicações sobre a música. E o Arnesto, que é na verdade Ernesto, ficou conhecido como o furão. E a verdade é outra. Completamente diferente.
Certa vez Adoniran e Peteleco (seu cachorro) foram na casa de Nicola, seu grande amigo e parceiro de muitas músicas, para ir para o Guarujá. O problema era que Nicola estava sem dinheiro para a viagem, por isso se escondeu em seu quarto para Adoniran não vê-lo e assim ir sem ele na viagem. O problema foi Peteleco. O cachorro farejou Nicola em seu quarto, revelando a farsa. Adoniran, chateado, disse apenas: "Não precisava disso Nicola, se você deixasse um recado na porta...". No mesmo instante Nicola disse que aquela frase dava samba. Pronto, parte do samba estava composto.

Agora vem a parte do Arnesto.

Certa vez Adoniran conheceu Ernesto Paulelli na boêmia, e logo começou a conversar com Ernesto:
- Dá um cigarro.
Quando Ernesto explicou que não fumava, Adoniran logo pediu:
- Então me dá seu cartão.
Quando Adoniran leu o cartão, disse:
- Arnesto?
- Não é Ernesto, com E.
- Não,é Arnesto. E eu não vou te entregar o meu cartão porque eu não tenho. Mas vou fazer um samba pra você. "Aduvida"?


Dez anos depois Ernesto estava em casa, com sua esposa, ouvindo o rádio. Quando começa a tocar o "Samba do Arnesto". Ernesto ficou felicíssimo. Saiu gritando para todos:
- Esta peteca é minha!!
A sua esposa, que não estava entendo nada, só depois ouviu os versos no rádio e entendeu que era a homenagem de Adoniran à Ernesto. A partir deste momento, Ernesto nunca mais seria conhecido assim. E sim por Arnesto, o mais famoso furão, que na verdade nunca deu bolo em ninguém.





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